Guerra do Paraguai de 19, um século, é vista agora como resultado de um regime militar que, comandou o Brasil e nações ricas, mas não mais como imperialismo inglês.
A guerra foi um desafio para os brasileiros, o maior e mais sangrento conflito armado internacional já ocorrido na América Latina, conhecido por seu impacto devastador e altos números de baixas.
A visão tradicional sobre a Guerra do Paraguai, que durou de 1864 a 1870, foi moldada pela ideologia política da época, particularmente pela narrativa dos opositores da ditadura militar, que governou o Brasil de 1964 a 1985. Essa visão destacava a luta pela liberdade e justiça, mas ao mesmo tempo apontava a guerra como uma ação injustificada e ultrapassada. Entretanto, essa narrativa não refletia a complexidade da guerra e a realidade dos fatos. A guerra foi um conflito complexo, envolvendo questões de soberania, interesses econômicos e soberania, que precisava ser compreendida em seu contexto histórico.
Uma Aversão Hábil à Intervenção Imperial
Com um distanciamento marcante em relação à interferência das potências estrangeiras nos destinos da América do Sul, uma narrativa sedutora ganhou força. Ela apontava o conflito do século 19 como consequência direta do envolvimento da Grã-Bretanha, despejando recursos e reforços bélicos em sua contra. Essa história fazia do Paraguai um país em ascensão, com uma indústria em pleno desenvolvimento, justiça social e uma riqueza soberana, sem dependência de outras nações ricas. Nesse cenário, o país se tornava uma exceção em um contexto de novos países americanos conquistando autonomia ao preço de uma dependência econômica de nações ricas.
Ameaças e Riquezas
Vendo-se ameaçados por esse país em ascensão que se tornariam um concorrente de sua influência, sobretudo no Brasil e na Argentina, os ingleses despejaram dinheiro e reforços bélicos. O resultado foi um massacre que condenou o Paraguai à pobreza e ao subdesenvolvimento. Esse foi o fim do sonho sul-americano.
Provas Documentais?
O historiador Francisco Doratioto, professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), nega a ideia de que a Grã-Bretanha estivesse diretamente envolvida. ‘Não existe um documento oficial, não existe nada que mostre que o governo inglês tinha interesse em fazer uma guerra na região,’ diz ele em entrevista à BBC News Brasil na manhã de terça-feira (10/12).
Conflitos e Versões
A visão contemporânea do conflito, deflagrado oficialmente com a declaração de guerra do Paraguai ao Brasil em 13 de dezembro de 1864, véspera da invasão das forças do país vizinho à então província do Mato Grosso, é aquela que foi construída por historiadores como Doratioto depois de minuciosa pesquisa em documentos históricos paraguaios, brasileiros, argentinos, uruguaios e ingleses. Em 2002, o historiador lançou seu mais conhecido livro: Maldita Guerra: Nova História da Guerra do Paraguai, consolidando-se como autoridade no tema. Outros estudiosos que foram reconhecidos pela reescrita da história dessa guerra foram os historiadores Ricardo Salles (1950-2021) e, de forma pioneira, Moniz Bandeira (1935-2017).
A Guerra do Paraguai: Uma Epopeia
A Guerra do Paraguai durou de dezembro de 1864 a março de 1870. De um lado estava a pequena República do Paraguai, com cerca de 400 mil habitantes. De outro, a Tríplice Aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai — juntos, somavam pouco mais de 11 milhões de habitantes. O resultado foi arrasador. Calcula-se que a população paraguaia tenha se reduzido para menos de 190 mil pessoas. ‘90% dos homens morreram,’ afirma Doratioto. ‘Do sexo masculino, sobraram apenas idosos e crianças.’
Diversas Versões
Doratioto explica que a versão outrora ensinada no Brasil acabou se tornando a mais conhecida e difundida no país, sobretudo por conta da ditadura militar. Seu registro mais popular foi o livro Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai, publicado em 1979, de autoria do jornalista Júlio José Chiavenato. ‘Ele não é historiador e comete erros de metodologia que qualquer aluno de graduação [se o fizesse] não seria aprovado na matéria,’ aponta o historiador, destacando a importância de uma abordagem metodológica sólida em estudos históricos.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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