Pesquisas recentes na linguística e psicolinguística sugerem que línguas diferentes influenciam a percepção da realidade.
As palavras que escolhemos usar para nos expressar têm o poder de modelar como interpretamos a realidade e como nos sentimos em relação a ela. Isso é possível graças ao poder do idioma em influenciar nossas emoções e percepções. Ele não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas também um idioma que forma nosso pensamento e modo de ver o mundo.
Além disso, o idioma que usamos também pode afetar nossa forma de pensar e como lidamos com informações. Por exemplo, em linguagens como o português, a forma como as palavras são estruturadas pode influenciar a forma como processamos e compreendemos informações. Isso é especialmente verdadeiro em contextos de comunicação em que a linguagem é usada para transmitir informações complexas e abstratas.
Os desafios do mundo multilíngue
Na era da globalização, o uso de mais de um idioma tornou-se um fato comum, especialmente quando se considera a procura de oportunidades acadêmicas, profissionais e sociais. De acordo com estudos recentes, cerca de 60% da população mundial utiliza dois ou mais idiomas em suas interações diárias. Este contingente crescente de bilíngues e multilíngues desafia a compreensão clássica do processo emocional, levantando questões sobre a relação entre linguagem e percepção emocional.
Um mundo de idiomas
Pesquisas sugerem que cada língua pode influenciar como as pessoas processam e percebem a realidade. Isso significa que os falantes bilíngues podem experimentar alterações na percepção emocional ao alternar entre os idiomas que utilizam. Além disso, estudos demonstraram que os indivíduos bilíngues podem agir de maneira diversificada dependendo do idioma em uso e, igualmente, são percebidos de forma distinta pelos interlocutores de acordo com a linguagem utilizada.
Linguagem e emoção
Os falantes bilíngues usam palavras que definem ou descrevem emoções de forma diferente em sua língua materna e em seu segundo idioma. A língua materna costuma ter uma vantagem emocional sobre o que foi aprendido em segundo lugar, ativando uma maior intensidade emocional, especialmente quando se lembram de experiências vividas no período em que aprenderam a se comunicar. Alguns estudos demonstraram que as pessoas descrevem memórias da infância com mais detalhes e emoção se o fizerem na língua nativa, uma vez que foram com essas expressões que rotularam as experiências.
Distanciamento emocional
O novo idioma pode facilitar um certo distanciamento emocional, permitindo que os falantes reduzam a ansiedade ou o constrangimento ao se comunicarem em situações complexas, como aquelas que envolvem a expressão de raiva ou de desculpas. Em outras palavras, percebem a língua materna como mais rica em emoções e, a segunda, como mais prática, porém menos expressiva. Consequentemente, a manifestação emocional na língua materna é percebida com mais intensidade, independentemente de a emoção ser positiva ou negativa.
Construção do discurso e contexto social
A escolha da língua em que os bilíngues se comunicam afeta também a forma como as pessoas percebem os outros. O uso de um idioma ou de outro pode influenciar a construção do discurso e revelar aspectos culturais e sociais das comunidades linguísticas às quais pertencem. Em um estudo realizado com falantes bilíngues de chinês-inglês nos Estados Unidos, os participantes indicaram que se sentiam mais confortáveis em expressar as suas emoções em inglês (a segunda língua) devido a menos restrições sociais, mas experimentaram maior conexão emocional em mandarim (a língua nativa).
É possível sentir que as próprias mudam ao alternar entre os idiomas que usam.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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