A Espanha venceu a Eurocopa com a dupla de volantes Rodri e Real, mostrando marcação por encaixes individuais.
No intervalo da final da Eurocopa, a informação sobre a contusão de Rodri parecia representar a principal preocupação para a manutenção do controle que a Espanha já tinha sobre a Inglaterra. Logo no início do segundo tempo, os espanhóis demonstravam uma transformação discreta que ultrapassava a entrada de Zubimendi, um dos cinco atletas da Real Sociedad no clube campeão europeu, substituindo o melhor volante do mundo.
Enquanto a equipe espanhola se reorganizava em campo, a seleção inglesa buscava desesperadamente uma forma de reverter a situação. O clube espanhol, com sua estratégia bem definida, mantinha o controle da partida e pressionava a seleção adversária com jogadas rápidas e eficientes, demonstrando sua superioridade em campo.
Clube Espanhol e sua Seleção
Seja para auxiliar Zubimendi ou para iludir a marcação por encaixes individuais da Inglaterra, Fabian Ruiz passou a iniciar as jogadas alguns metros atrás, numa dupla de volantes. A Espanha passava de um 4-3-3 ao 4-2-3-1, gerando dúvidas na marcação inglesa e, a partir daí, construindo a jogada do primeiro gol, marcado por Nico Williams. No Troca de Passes, logo após o jogo, a mudança foi examinada em uma análise tática que pode ser vista no vídeo abaixo. A naturalidade com que os espanhóis mudaram o sistema, os mecanismos de saída de bola e construíram o gol é um sintoma de um traço que distingue esta seleção: o funcionamento similar ao de um clube. Durante muito tempo, discutimos por que Messi não rendia na seleção argentina como no Barcelona. Neste mês de torneios continentais, houve discussões sobre o que impedia a seleção inglesa de encontrar um nível de jogo à altura de seus talentos. O mesmo tema se aplicava à França, riquíssima em individualidades. Ou, em dado momento, à própria Argentina, que foi fazer seu melhor jogo na Copa América apenas na decisão. O fato é que os principais jogadores do mundo atuam nas mais ricas equipes do planeta. São vistos, semanalmente, em contextos que beiram a perfeição: jogam em times que reúnem os melhores de cada posição e que dispõem do dia-a-dia de treinos. As seleções precisam conviver com suas imperfeições, suas lacunas naturais a cada geração de atletas e, pior, com a falta de rotina de treinos. Fazer uma seleção ser a soma, ou mais do que a soma de seus talentos, é raro. Talvez esteja aí o maior mérito espanhol. A forma como o jogo fluiu lembrava o futebol de clubes. Em especial pela maneira como algumas parcerias em campo pareciam produzir encaixes típicos de clubes que podem buscar jogadores ideais para equilibrar o time. Muito se falou dos pontas espanhóis. Se é fato que a seleção chega mais rápido ao gol rival do que a icônica equipe dos títulos vencidos entre 2008 e 2012, a maior razão é a aparição de Nico Williams e de Lamine Yamal, este último aparentemente destinado a ser um jogador de elite mundial. Mas a forma como recebiam a bola sempre em boas condições para enfrentar seus marcadores tem a ver com o meio-campo da Espanha. Neste setor, os três jogadores se completavam. Rodri é o melhor camisa 5 do mundo, capaz de controlar, ditar o ritmo, distribuir os primeiros passes, aparecer nas imediações da área para finalizar e, claro, proteger a defesa. À frente dele, Fabián Ruiz fez um brilhante torneio como o típico camisa 8, dinâmico, bom passador e excelente no ataque à área. Já Dani Olmo, que se tornou titular após a lesão de Pedri, funcionou muito bem jogando entre as linhas de volantes e defensores rivais, e com muita capacidade de decidir jogos com gols. Pela esquerda, Nico Williams era um ponta que, embora por vezes se movesse na direção do centro do ataque, costumava buscar o fundo do campo. O lateral Cucurella combinava perfeitamente com ele, ao fazer corridas pelo corredor intermediário, auxiliando a equipe a manter a posse de bola e criar oportunidades de gol. A sintonia entre os jogadores, a forma como se movimentavam em conjunto e se entendiam em campo, lembrava o entrosamento de uma equipe de clube bem treinada. Isso foi fundamental para a Espanha superar as adversidades e se destacar no torneio. A capacidade de adaptação tática, a inteligência nas movimentações e a qualidade técnica individual dos jogadores foram elementos-chave para o sucesso da seleção espanhola. O clube espanhol mostrou ao mundo que, mesmo em um ambiente de competição internacional, é possível jogar com a mesma coesão e eficiência de uma equipe de clube consolidada. A combinação de talento, trabalho em equipe e estratégia bem definida foi o que permitiu à Espanha alcançar resultados expressivos e encantar os fãs de futebol em todo o mundo. A seleção mostrou que, quando se joga com o espírito de um verdadeiro clube, as barreiras individuais se dissipam e o coletivo se sobressai, criando uma sinergia única que leva ao sucesso. O exemplo deixado pelo clube espanhol serve de inspiração para outras seleções, mostrando que a chave para o êxito está na união, na confiança mútua e no comprometimento de cada jogador com o bem comum. A trajetória da Espanha no torneio ficará marcada não apenas pelos resultados obtidos, mas também pela forma como a equipe se comportou em campo, demonstrando que, quando se joga com o coração de um clube, não há limites para o que se pode alcançar.
Fonte: © GE – Globo Esportes
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