Protestos em Bangladesh por sistema de cotas evoluem para críticas ao governo, diz editor da BBC na Ásia.
Mais de 100 pessoas perderam a vida em meio à onda de protestos que tomou conta de Bangladesh – 50 falecimentos foram registrados somente na sexta-feira (19/7). Protestos nas ruas não são algo novo para esta nação sul-asiática de 170 milhões de habitantes – porém, a magnitude das manifestações que tiveram início na semana passada tem sido caracterizada como a mais intensa na história recente do país.
A situação continua tensa em Bangladesh, com revoltas populares se espalhando por diversas cidades. Os protestos persistem, desafiando as autoridades locais e gerando preocupações sobre a segurança dos cidadãos. A população clama por mudanças e a resolução dessas questões que têm levado a um cenário de caos e incerteza em todo o país.
Protestos na Nação Sul-Asiática Atingem Novo Patamar
A onda de protestos em Bangladesh atingiu um novo patamar, com o governo impondo um bloqueio sem precedentes na comunicação, desligando a internet e restringindo os serviços de telefonia. Além disso, decretou um toque de recolher nacional, em meio a um cenário de crescente descontentamento. O que inicialmente eram manifestações pacíficas nos campi universitários agora se transformaram em um movimento nacional de revoltas.
Na última sexta-feira (19/7), manifestantes incendiaram uma prisão e libertaram centenas de detentos, além de invadirem e destruírem parte da sede da emissora de TV estatal BTV. Os motivos por trás dos protestos estão relacionados a um sistema de cotas para empregos no governo, que tem sido alvo de críticas por parte de milhares de estudantes universitários.
Um terço dos empregos no setor público é reservado para parentes de veteranos da guerra de independência de 1971, contra o Paquistão. Os estudantes argumentam que esse sistema é discriminatório e clamam por um recrutamento baseado no mérito. Os coordenadores dos protestos alegam que a polícia e o setor estudantil do partido governante têm utilizado força brutal contra os manifestantes pacíficos, desencadeando uma ampla revolta.
‘Não são apenas os estudantes, pessoas de todas as classes sociais se uniram aos protestos,’ destaca Samina Luthfa, professora assistente de sociologia na Universidade de Dhaka. Os protestos eram aguardados há algum tempo, refletindo um descontentamento latente na população. Embora Bangladesh seja uma economia em crescimento, especialistas apontam que esse desenvolvimento não se traduziu em oportunidades de emprego para os recém-formados.
Estima-se que cerca de 18 milhões de jovens estejam em busca de emprego no país, com graduados enfrentando altas taxas de desemprego. Bangladesh se destaca como uma potência na exportação de roupas prontas para uso, com um volume de exportação de cerca de US$ 40 bilhões (R$ 225 bilhões) anualmente. O setor emprega mais de 4 milhões de pessoas, principalmente mulheres, mas não é suficiente para atender a demanda por empregos.
Sob o governo da primeira-ministra Sheikh Hasina, que está no poder há 15 anos, Bangladesh passou por transformações significativas. Novas infraestruturas foram construídas, a renda per capita triplicou e milhões de pessoas foram retiradas da pobreza. No entanto, críticos apontam que parte desse crescimento beneficia apenas os próximos ao partido governante, com denúncias de corrupção sem punição.
A professora Luthfa ressalta: ‘Estamos testemunhando muita corrupção, especialmente entre os aliados do partido no poder.’ Nas redes sociais de Bangladesh, as discussões sobre corrupção envolvendo altos funcionários têm ganhado destaque, alimentando ainda mais os protestos e manifestações que abalam a nação sul-asiática.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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