A perigosa peregrinação por locais distantes do centro do poder levava à boa nova aos marginalizados, camponeses, negros e vida periférica, evitando perseguições oficiais.
Em uma narrativa que se distancia da visão tradicional sobre Jesus, a série Visão do Corre reconta a história de um homem que desafiou as estruturas de poder do seu tempo. A vida de Jesus, um pregador marginalizado e contrário ao status quo, é retratada com uma olhar mais crítico e humano. Sua origem camponesa e sua posição como um líder religioso rebelde o tornaram um personagem fascinante e controverso.
É interessante notar que a vida de Jesus tem muitas semelhanças com a de figuras modernas, como Frei David Santos, fundador da Educafro e um dos principais responsáveis pela inclusão de jovens negros e pobres no ensino superior. Frei David Santos colocou mais de 100 mil jovens negros e pobres no ensino superior com seus cursinhos. Sua luta pela justiça social e pela igualdade de oportunidades é um exemplo inspirador de como um indivíduo pode fazer uma diferença significativa na sociedade. A série Visão do Corre destaca a importância de relembrar a história de Jesus como um símbolo de resistência e de luta contra as injustiças sociais.
Jesus, o itinerante das periferias
A vida de Jesus Cristo é uma história de empatia e luta contra a opressão, marcada por sua ligação profunda com as comunidades marginalizadas da época. André Leonardo Chevitarese, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que Jesus, frequentemente, não era bem-vindo nas cidades centrais, onde os poderosos e ricos exerciam seu controle. Em vez disso, ele se movia por lugares periféricos, como aldeias e vilas, onde a pobreza e a exploração eram mais comuns. ‘Jesus andava por lugares periféricos, é periférico, itinerante. Tem um dado interessante: sempre que ele vai na sinagoga, dá problema,’ lembra Chevitarese. ‘Ele é expulso, mal interpretado. A única vez que ele vai no palácio, é amarrado, para ser julgado pelo governador Pilatos.’
Um retrato de Jesus: o homem do povo das periferias
André Chevitarese, autor de Jesus de Nazaré, uma Outra História, afirma que o melhor retrato de Jesus feito pela pesquisa é de um sujeito de origem camponesa. ‘O melhor retrato de Jesus que nós pesquisadores temos feito é de um sujeito de origem camponesa,’ diz Chevitarese. Isso é consistente com o contexto histórico da época de Jesus, em que a exploração camponesa era uma realidade comum. ‘Frutas, legumes, grãos, peixes: de cada quatro, três eram retidos em impostos,’ conta Chevitarese. ‘É uma exploração violenta, tem uma revolta camponesa muito próxima ao contexto de Nazaré.’ A cidade de Séforis, a seis quilômetros de Nazaré, foi invadida por camponeses liderados por Judas, o Galileu, que queimaram as dívidas com os donos de terra.
Profetas marginalizados
Profetas como Jesus eram pessoas marginalizadas, desprovidas de estabilidade e influência. ‘Ninguém queria ser pastor, não tinha higiene, dormia ao relento, não podia seguir os rituais de pureza do judaísmo, eram meio andarilhos,’ caracteriza o padre Júlio Lancellotti. Essa ausência de reconhecimento e poder era típica dos profetas, que conviviam com suas comunidades, mas não se encontravam no luxo ou situação superior. O sheik Rodrigo Jalloul, da mesquita da Penha, em São Paulo, afirma que os profetas nunca estiveram no status quo, mas sempre em contato com o povo. ‘Os profetas nunca estiveram no luxo, em situação superior ao do seu próprio povo, mas convivendo com ele,’ diz Jalloul.
A pregação de Jesus e a reação dos poderosos
A pregação de Jesus, que enfatizava a igualdade e a justiça, só podia dar em cadeia. Ele entrou no templo e, com uma vara, expulsou aqueles que estavam fazendo vendas, demonstrando sua determinação em proteger os pobres e o povo marginalizado. ‘Há o famoso momento em que Jesus entra no templo e com uma vara enxota aqueles que tentam fazer vendas,’ lembra o padre Júlio Lancellotti. ‘Ele precisou agir com assertividade para impedir que os poderosos explorassem e oprimissem ainda mais o povo.’ Essa atitude de Jesus é emblemática de sua missão de defender os direitos dos vulneráveis e desafiando o estatuto quo.
Fonte: @ Terra
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