Desfiles de carnaval paulistano podem sofrer de esgotamento criativo, com reciclagem de temas afro e religiosidade afro, repetindo conceitos em escolas de samba e grupos de acesso, enquanto compositor e sambista buscam inovação.
O Carnaval em São Paulo é uma festa animada e colorida, com a presença de mais de 65 escolas de samba, cada uma com sua própria roupagem e identidade. Elas competem para conquistar o acesso ao Especial, considerado o pódio do Carnaval paulistano.
Um dos principais temas do Carnaval em São Paulo é a música, com destaque para o samba, que anima as ruas das zonas leste e oeste da cidade. As escolas de samba se reúnem em duas avenidas, onde desfilam suas fantasias e coreografias, em busca do grupo de acesso ao Especial. Nesse cenário, o acesso a essas avenidas é um desafio para as escolas, pois elas precisam estar preparadas para um público de milhares de pessoas.
Um incômodo crescente no Carnaval paulistano
O Carnaval paulistano vive um momento de desconforto entre os seus protagonistas. É preciso falar de temas que ultrapassem a religiosidade afro, dizem os sambistas Paulinho da Leandro e Ernesto Prata. Foto: Divulgação
Um questionamento acerca da repetição de temas afro no Carnaval paulistano ganha força. O carnaval de 2025 não será diferente, com a União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP) prometendo manter a tradição. A UESP une 65 agremiações que disputam por acesso ao grupo Especial, após passar por dois grupos de acesso. São escolas como a Lavapés, fundada em 1937, que irá falar de Xangô, e Uirapuru da Moca, que canta Oxóssi. Notícias relacionadas O gari Renato Sorriso está fazendo antes do Carnaval do RJ? MP apura suposta venda abusiva de ingressos para o Carnaval 2025 no RJ O bloco da zona leste estreia amanhã em SP ‘Eu não acho que deva se extinguir o tema afro, mas que as escolas tenham olhos para outras realidades. Vamos falar de periferia, por exemplo, onde o negro e o pobre estão inseridos. A negritude, a africanidade, vai estar dentro desses temas. E estará como protagonista’, diz o compositor Ernesto Prata. Da Baixada Santista e radicado em São Paulo desde a década de 1980, Prata é um nome atuante no Carnaval paulistano. Com 62 anos, admite que as histórias dos orixás são bonitas, ‘mas na minha visão de sambista e compositor, a gente tem várias outras histórias para contar’. Em 2024, a escola de samba Em Cima da Hora Paulistana levou os nordestinos para a avenida. É preciso variar temas. Foto: Divulgação Quando não é uma escola, é outra Paulinho da Leandro – da emblemática Leandro de Itaquera – conta que ‘faz tempo que as escolas vêm batendo nesse tema, e ficou cansativo, ficou maçante. Começou um boom de falar sobre orixás’. Com 25 anos de samba e 58 da idade, Paulinho integra a Velha Guarda e a Ala de Compositores da Leandro de Itaquera. Está todo dia na Fábrica do Samba, onde são produzidas fantasias e adereços. Íntimo da produção carnavalesca, ele tem uma explicação para a repetição temática. ‘Todo mundo começou a reutilizar material, por isso que deu esse monte de enredo falando de orixá. Não vão no mesmo santo todo ano, mas vão no mesmo tema. Ogum vira preto velho em outro desfile’, diz. Paulinho da Leandro tem 25 anos de samba e aponta a reciclagem como um dos motivos para repetição de temas. Foto: Arquivo pessoal No ano passado, a Leandro de Itaquera foi para a avenida com tema de orixá. Em 2025, vai falar de preservação do meio ambiente e começou a produção de fantasias e adereços do zero, sem reaproveitar objetos. ‘O foco nosso é a questão da natureza, é um grito de alerta: a palavra-chave é preservação’, explica Paulinho. Quem não fará desfile de orixá? Para o compositor Marcelo Tamborim, ‘independentemente do tema, afro ou outro, nós vamos continuar sempre compondo porque somos sambistas e o samba corre nas veias’, diz. Entre as escolas que realizaram desfiles sobre temas afro em 2024, está a Leandro de Itaquera, que fez um enredo sobre a religiosidade afro.
Fonte: @ Terra
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